São Sebastião: artigo do vice-presidente da AFFEMG é publicado na Imprensa
Neste mês, marcado por tragédias, o vice-presidente da AFFEMG, Marco Túlio da Silva, propõe uma reflexão sobre desigualdades e escolhas nada republicanas para falar sobre a calamidade que aflige São Sebastião.
O artigo foi publicado, neste fim de semana, no blog do jornalista, Orion Teixeira.
Leia:
São Sebastião: tragédia reflete desigualdades e escolhas nada republicanas
Mais uma vez, cenas fortes tocam nossa alma e é preciso se indignar e agir. Esta frase consta de artigo que escrevi em 2022, quando chuvas atingiram Petrópolis (RJ).
Naquela oportunidade, expressei que o que ocorreu não foi ira dos deuses nem fatalidade: foram escolhas públicas pouco republicanas. Acrescento que o que ocorreu e continua ocorrendo também é fruto de escolhas individuais da parcela mais rica da sociedade.
Claro que eventos extremos da natureza ocorrem, nisso também nossas intervenções equivocadas no ecossistema precipitam e potencializam tais eventos, mas as consequências deles são maiores em função das desigualdades que provocamos e seus desdobramentos.
No livro “Pandemias, saúde global e escolhas pessoais”, os autores compararam pandemias a desastres naturais, contra os quais pouco se pode fazer. E perguntam “Deveria a nossa civilização se resignar a viver sob a ameaça constante de pandemias altamente patogênicas e simplesmente ter em mãos planos de ação para reduzir seus efeitos quando elas acontecem?”. Lanço a mesma pergunta com relação aos eventos extremos da natureza.
Impactos e nosso papel
A mensagem do livro é de que não estamos à mercê de pandemias ou catástrofes inevitáveis (fatalidade) e que podemos atenuar suas ocorrências e efeitos. Se entendermos como e por que emergem os eventos extremos da natureza e os motivos de seus efeitos cada vez mais devastadores, perceberemos que, cada um de nós, com o poder de nossas escolhas, pode contribuir para reduzir muito a chance de que esses eventos ocorram novamente e que, quando ocorrerem, que os efeitos sejam menos impactantes.
Como se costuma dizer, “vou mandar a real:” aqueles que não fazem parte das classes mais pobres curtem o fato de ir à praia e pagar para serem servidos por pessoas que, para sobrevivência sua e de sua família, trabalham em condições precárias, recebem pouco e moram onde a natureza tem uma placa estampada “proibido morar aqui”. Eles não constroem e moram em encostas por escolha, mas por falta de opção!
Matéria veiculada em (apublica.org) com entrevista de Norma Valencio, vice-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (Neped) da Ufscar, destaca que “catástrofes como as que acometem o litoral norte paulista são resultado de ‘estruturas institucionais e dinâmicas socioespaciais’ que fazem com que grupos sociais em processo de vulnerabilização não tenham ‘como se defender desses fenômenos extremos’. Em outras palavras, as maiores vítimas são os mais pobres, em grande parte negros, obrigados a viver em áreas inseguras e mais vulneráveis a enchentes e deslizamentos de terra, como as encostas da Serra do Mar”.
Ainda estamos no maternal quanto ao aprendizado do significado de empatia e solidariedade. Evidente o quão importante é a questão das nossas escolhas de cada dia com relação a todos aqueles que coabitam nosso país e o planeta.
Empatia e realidade
Que a cada dia, sejamos mais empáticos e construtores de uma realidade justa e solidária. Aliás, para usar outro termo muito comum no passado recente, construir uma sociedade justa e solidária é agir nas quatro linhas da Constituição, pois é princípio fundamental da República (art. 3º da CF/88).
Enquanto não evoluímos para fazer mais e melhor, faço minhas doações para meus irmãos do litoral norte de São Paulo, pois como diz a canção de Legião Urbana “gosto de São Paulo, e gosto de São João, gosto de São Francisco e São Sebastião, e eu gosto de meninos e meninas”.